Carlos Augusto Furtado de Mendonça Dias Fernandes nasceu em 20 de Setembro de 1874 na cidade de Mamanguape, Paraíba. Exerceu as atividades de pedagogo e jornalista. Além disso, o escritor era completamente defensor dos animais publicando diversos artigos sobre o tema o que revela que era plenamente vegetariano, chegando a publicar o livro “Proteção aos Animais” em 1914.
" Apresentava um aspecto juvenil de atleta, mantendo a forma através da ginástica sueca. Não fumava, nem bebia. Era alvo e corado, o cabelo esvoaçante, castanho claro." Osias Gomes
Em 26 de janeiro de 1917, Carlos Dias Fernandes comemorou a fundação da Sociedade Vegetariana Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, e publicou matéria sobre o assunto:
“Vai ganhando surto em todo mundo civilizado o regime vegetariano como solução prática do problema moral, economico e therapeutico dos povos. (…) Vegetarianismo quer dizer vida de accôrdo com a natureza”
Era muito admirado e respeitado, e justamente porque destoava da maioria. Não se importava com casamento formal, tinha uma dieta avessa à das pessoas com quem convivia, se vestia sem atender as normas sociais e possuía imensa bagagem cultural.
Ao longo de anos realizou conferências e palestras sobre vegetarianismo, defendendo que a abstenção do consumo de alimentos de origem animal era o único meio de assegurar o respeito aos animais em um contexto moral e ético. E para reafirmar a sua posição, o autor apresentou argumentos envolvendo saúde e higiene, considerando-os imprescindíveis como ferramentas de convencimento.
Controverso, Carlos Dias Fernandes chamou muita atenção quando publicou na edição de 5 de junho de 1918 do Jornal A União uma matéria em que defendeu fervorosamente a prática da medicina natural, confrontando laboratórios farmacêuticos. Também realizou uma grande conferência sobre feminismo em 1924, justificando que os direitos e deveres das mulheres precisavam estar de acordo com as suas aspirações, argumentando que as mulheres, de forma semelhante aos animais, eram subjugadas, privadas de liberdade.
Frequentemente publicava no jornal A União, onde ele tinha total liberdade sobre o que escrever. Exemplos são três matérias veiculadas em agosto de 1916 sob o título “O Regime Vegetariano”, um desdobramento do que Fernandes já defendia no livro “Proteção aos Animais”, de 1914. Na obra, Fernandes, que não era religioso, cita religiões e crenças que endossam o papel do ser humano como protetor dos animais e da natureza. Polêmico, chegou a discutir com profissionais de saúde da época que defendiam o consumo de carne.
Porém, foi a própria literatura que conduziu Carlos Dias Fernandes ao vegetarianismo. Ele deixou de consumir alimentos de origem animal depois de ler Liev Tolstói, Lord Byron e Jean-Jacques Rousseau. Conforme Amanda Galvíncio, Fernandes citava com frequência pensadores como Sócrates, Hipócrates e Plutarco, além de Buda e Jesus Cristo, principalmente em suas palestras.
Carlos Dias Fernandes tinha muita influência anarquista. Seus romances são bastante influenciados por ZOLA. O escritor também era amigo e companheiro de ideias da anarquista-feminista MARIA LACERDA DE MOURA, além de integrar junto com ela uma comissão a favor da liberdade do pedagogo anarquista espanhol FRANCISCO FERRER, assassinado tempos depois pelos franquistas.
O que também reafirma a influência do vegetarianismo na vida e na obra do poeta são seus personagens que não raramente eram animais. No geral, a natureza sempre foi um tema recorrente em seus poemas e contos. Em seus últimos versos, jamais publicados, os animais ainda ocupavam posição de destaque.
Apesar de esquecido pela literatura que tanto amou, uma de suas frases mais famosas, sobrevive ao tempo:
“Fazer mal aos animais é indício de mau-caráter”.
POESIAS:
01. Briário e Centímano
Solitário coqueiro miserando,
Que as tormentas não deixam sossegar!
E, de contínuo, as palmas agitando
Pareces um vesânico a imprecar.
Desgraçada palmeira, como e quando
Irão teus pobres dias acabar;
E com eles ou teu destino infando
De cativo da Terra ao pé do Mar?
Hemos conformes nossos tristes fados.
Tu, germente Briaréu dos vendavais
Eu, Centímano de cem mil cuidados.
Um retorcido aos ventos outonais
Outro com os seus anelos sossobrados…
Nem sei qual de nós dois braceja mais.
02. CANÇÃO DA VESTA
Terra, estrella sem luz, de fecundas entranhas,
Dentro nas quaes o amor perpetuamente lida ;
Planeta espheroidal, que no espaço acompanhas
O turbilhão dos soes ; fonte nunca exhaurida
Da seiva germinal—a essência diffundida
Na trama vascular de perfeições tamanhas
— Sejas bemdicta, ó mãe tellurica da vida,
Com os teus prados, vulcões, abysmos e montanhas.
Filho do flanco teu, voltarei consolado
Ao ventre maternal, para florir de novo ;
Quem sabe onde, como e em quê transubstanciado?
Atomb, esporo, embryão na gemmula de um ovo,
Que importa ? se homem, planta ou seixo inanimado,
Somos todos irmãos— teus filhos e teu povo."
03. OFERTÓRIO
Les idéales se succèdent, on les dépasse,
ils tombent en ruine, et puisque’il n’ y a pas
d’autre vie, s’est sur ces ruines encore
qu’il faut fonder un idéal dernier.
Th. Dostoievski
Foi por vós, catecúmenos sombrios
Da excelsa religião do sentimento,
Que de tudo num vago esquecimento
Vaguei da Morte pelos reinos frios;
Buscando a essência em flor do sentimento
Oculta nesses báratros sombrios,
Onde a voz tumular de ventos frios
Geme o salmo do eterno esquecimento.
Foi por vós que eu vivi nas outras vidas
As sensações secretas, doloridas,
Que sufocam os gritos na garganta.
E é por vós que a minh’alma aniquilada,
Nos sudários do Sonho amortalhada,
Das próprias ruínas ressurgindo, canta.
04. Tedium Teniae
Um tedio verde e uma sinistra hypocondria
Minavam de amargura os meus dias mortaes.
Pessimismo ou Amor? Arte ou Philosophia?
— Era uma Tenia solitaria e nada mais.
E eu nem siquer de tal cousa me apercebia.
Ó apparencias vãs, como nos enganaes!
Eu, em plena eclosão de vital energia,
Devorado em meu ser por helmynthos fecaes!...
Quem tal dissera, assim vendo-me sobranceiro,
Farfalhante e feliz como um rijo pinheiro,
Filho da solidão, principe vegetal?!...
Ah! Mas também a vós, árvores, vos devora
O xilophago roaz, que se gera e que mora
No caule, de onde brota o cheiroso copal.
05. URBS MEA
Ergue-te, que já vem repontando a alvorada.
Quem trouxe o fado teu, tarde ou nunca descança.
Eis-te na guerra, sus, alma tantalizada!
Cavalga o teu corcel, pega na tua lança.
Recomeça de novo a intérmina Cruzada,
Põe no teu amuleto as asas da Esperança;
Beija em face de Deus a cruz da tua espada
E de encontro a legião dos bárbaros avança.
E um assedio ! Vês : —Mouros por toda parte;
O Reyno de Aragão dos teus nobres cuidados
Presa dos Infiéis... Rompe-se o baluarte ;
Entra a mourama hostil... Solta ao vento os teus brados
E morre, proclamando o teu Symbolo d'Arte,
Na trágica invasão dos muros derrocados.
06. AS FLORES
Nascem tenros botões pelo ramo orvalhado.
Reveste a arvore toda um fulgor nupcial:
É a infloração, o recamo irisado
Das frondes—gonfalões da apothéose vernal.
Crysalida a sonhar no casulo fechado
Das sépalas, a flor—borboleta aromal —
As pétalas abriu á luz quente do prado,
Discerrando as juncções do invólucro floral.
Cada ramo se fez uma curva guirlanda,
E, das folhas por entre o verdoengo aranhol,
Voejam colibris numa alada siranda.
Sobem dulias de incenso ao concavo arrebol:
É a arvore, a bracejar, que pelos galhos rrtanda
Beijos de aroma ao ar, hymnos de aroma ao sol
DOCUMENTÁRIO
Boa noite, você poderia me passar seu email? Preciso saber se você tem contato com os primeiros punks de João Pessoa e Campina Grande. Obrigado.
ResponderExcluirOlá! Tenho mais contato com os antigos e atuais membros da CUSPE de CG!
ResponderExcluirOlá! Você tem alguma obra dele digitalizada?
ResponderExcluirOpa! Rapaz, não tenho. Vou tentar achar e posto aqui, ok? fllw!
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